A crise curativa

Poucos são ainda os defensores do naturismo da vida humana, porque os homens tanto se civilizam, que se acha lógica e plausível a culinária, o vestuário usual, o viver em casas com o ar confinado, etc.

A maior parte dos grandes pensadores, antigos e modernos não quiseram, ou não souberam filosofar sobre estes assuntos capitais.

Desde Pitágoras a Tolstoi muitos sábios repararam as irracionalidades do viver humano; o problema, porém, só modernamente tem sido encarado como deve, mercê de médicos ingleses, norte-americanos e sobretudo alemães.

Viver de alimentos puros é relativamente fácil de conseguir. Urge, a princípio, operar a abolição dos excitantes, como sejam a carne pútrida e o álcool perturbador, o sal estranho e o café irritante.

O tabaco é também condenável. Aquele que quiser, faz-se em poucos meses abstémio.

E à medida que vai deixando esses venenos, vai-se operando melhoria no seu íntimo que se traduz por várias sensações estranhas, por vezes dolorosas mas sempre purificadoras.

A crise é o melhor sinal de que o organismo reage e se liberta de tantos outros hóspedes indignos e desnecessários, porque desaparecem as adiposidades e sobrecargas gordurosas, manifestam-se disenterias depurativas, erupções da pele características, e muitas vezes sobrevêm furúnculos a expulsar para o exterior os venenos.

Mentalmente sofre-se também, mas o sono é cada vez mais sossegado e tranquilo.

Os intestinos trabalham melhor, expulsando fezes que se tornam inodoras à medida que se vão ingerindo alimentos crus.

O nosso organismo tem vários órgãos libertadores. São os pulmões, por onde temos o ar em contacto com o sangue; são as vias urinárias pelas quais eliminamos os excessos de metabolismo; são os intestinos que expulsam os restos da digestão, e até a pele por onde no suor saem produtos excretórios.

Por isso é preciso ter o organismo em bom estado para que a crise curativa da transição possa operar-se beneficamente.

Mas quem comer sal irrita os rins, quem não souber respirar não faz funcionar os pulmões, quem não sabe comer descura os intestinos, e quem não cuida da pele tem-na como rede de mil incómodos.

Nenhum principiante se deve apoquentar com as perturbações que se sentem no início da reforma alimentar. Convém fugir de tudo quanto o excite; ser casto; não ir a cinemas ou teatro; viver ao ar livre; não se cansar; e auto-sugestionar-se.

Nos primeiros meses da iniciação, nunca deixar de ler livros que elucidem e obriguem até a só querer frutos.