O açúcar

Se quando qualquer mãe entra com os filhos numa pastelaria para lhes dar rebuçados, bolos e pasteis, expostos aos dejectos do mosquedo, alguém lhe disser que está a habituar os pequenos entes a um pernicioso vício, ela, que todos os dias toma guloseimas, vinhos doces, e chá com açúcar, rir-se-á.

E, para se justificar, dirá que opiniões médicas consideram o açúcar um bom alimento, “formador de energias, de que as crianças tanto precisam…

E não só apoiará os gestos dos filhos, que mastigam mal esses artefactos dos pasteleiros, mas ainda levará para casa uma torta, um queque, um pão-de-ló, uma doçaria enfim para, à sobremesa, voltar a dá-la aos filhos e adoçar a boca ao marido.

Essa mesma criatura toda se ufanará quando gastar um quilo de açúcar por dia, sem reparar na série de contrariedades, inexplicável para ela, que tal vício acarreta.

O açúcar é um género de mercearia caríssimo, que parece ter sido inventado para enganar e seduzir, satisfazendo igualmente ao velho e à criança.

Esse pó trapaceiro, que existe em quase todos os lares, era desconhecido dos antigos lusitanos, pois só os velhos boticários o vendiam como remédio.

No século XVIII é que o seu uso se começou a universalizar, até atingir a expansão enorme actual. Assim como o chá e o café, o açúcar é um agente de aniquilação física.

Como? É que o açúcar industrial é um alimento morto que não tem propriedades fisiológicas. É um corpo químico perigoso que em nenhuma parte da natureza no-lo apresenta. O açúcar do comércio, adjuvante de tantos mil amálgamas, não passa dum traiçoeiro pó, branqueado pelo ácido sulfúrico e outros preparados, com o fim de apresentar esse aspecto alvo, tão prejudicial também no pão deste pervertido século.

O açúcar é causa de várias perturbações digestivas, de doenças de nutrição como a diabetes, do nervosismo e, além disso, formador, não de bons ossos, mas de péssimos dentes, assim como de gengivites e até de escorbuto.

Essas mães civilizadas que enlambusam os filhos de doçuras, levam-nos ao dentista, mas não atribuem ao sacarismo (Dr. Carlton) os defeitos da dentição, mesmo da primeira infância. No entanto, assim é.

Se se mergulhar um dente numa calda de açúcar, em breve o esmalte se dissolve e o dente dse desorganiza. O que acontece nesta experiência, mais se acentua na cavidade bocal, porque a saliva saturada de sacarose, está continuamente em contacto com os dentes a prepará-los para a cárie.

Melhor fariam essas mães se comprassem para os filhos frutos sumarentos, cheios de glicose assimilável, viva e fisiológica; por exemplo, maçãs, figos e ameixas, pêssegos e damascos, peras e cerejas, porque mesmo secos ao sol, os frutos sem calda alguma, são melhores que o açúcar.

Ninguém o duvide; apesar de tudo, não há criança alguma que não tenha predilecção por fruta. É o instinto a manifestar-se e a dizer às mães que não pervertam os filhos… com alimentos fabricados.