Refazer o meio

É, portanto, necessário refazer o nosso meio material e mental. Mas as formas da sociedade são rígidas e não podemos modificá-las desde já.

Contudo, a restauração do homem deve começar-se imediatamente, nas condições actuais da vida.

Cada um de nós pode transformar a maneira como vive, criar o seu próprio meio na multidão não presente, impor-se uma certa disciplina fisiológica e mental, certos trabalhos, certos hábitos, tornando-se senhor de si próprio.

Se está isolado, é-lhe impossível resistir indefinidamente ao ambiente material, mental e económico.

Para o combater vitoriosamente, deve associar-se com outros indivíduos que tenham o mesmo ideal.

Muitas vezes, é nos pequenos grupos que fermentam e se desenvolvem as novas tendências, que se geram as revoluções.

Foram grupos assim que durante o século XVIII prepararam em França a queda da monarquia.

A Revolução francesa deve-se mais aos enciclopedistas do que aos jacobinos.

Hoje, devemos combater os princípios da civilização industrial tão inexoravelmente como os enciclopedistas combateram o antigo regime.

Mas, a luta será mais violenta, porque as formas de existência que a tecnologia trouxe consigo são tão agradáveis como o álcool, o ópio ou a cocaína.

Os indivíduos animados pelo espírito da revolta serão obrigados a associar-se, a organizar-se, a apoiar-se mutuamente.

Mas, como proteger as crianças dos costumes da cidade moderna?

Elas seguem fatalmente o exemplo dos seus camaradas e amigos, e aceitam as sugestões correntes da ordem médica, pedagógica e social, mesmo quando libertas delas por pais inteligentes.

Nas escolas, todas são obrigadas a conformar-se com os hábitos do rebanho.

A renovação do indivíduo exige, portanto, que se filie num grupo suficientemente numeroso para poder isolar-se da multidão, impor-se as regras necessárias e possuir escolas próprias.

Quando existem grupos e escolas dessa espécie, talvez algumas Universidades abandonem as formas ortodoxas da educação e se decidam a preparar os jovens para o dia de amanhã, usando disciplinas conformes à sua verdadeira natureza.