Meio social

O homem adapta-se ao meio social do mesmo modo que ao meio físico. As actividades mentais, tal como as fisiológicas, tendem a modificar-se no sentido mais favorável à sobrevivência do corpo, orientando-se de modo a ajustar-se ao nosso meio.

Em geral, não é sem esforço que recebemos do grupo social de que fazemos parte a posição que nele pretendemos ocupar.

O indivíduo deseja saúde, poder, prazeres. Impelem-no o desejo do dinheiro, a ambição, a curiosidade, o apetite sexual. Mas encontra-se num meio indiferente e por vezes hostil.

Rapidamente compreende que tem de conquistar o que deseja. A sua maneira de reagir ao meio social que o rodeia depende da sua constituição específica. Há indivíduos que se adaptam ao mundo conquistando-o; outros, fugindo-lhe. Outros ainda, recusam-se a aceitar as suas normas.

A atitude natural do ser humano para com o mundo e os seus semelhantes, é a luta. A consciência responde à hostilidade do meio por um esforço exigido contra ele.

Então a inteligência e a astúcia desenvolvem-se, assim como a atenção voluntária, o desejo de saber, a vontade de trabalhar, de possuir, de dominar.

A paixão da conquista assume aspectos diferentes segundo os homens e o meio. É ela que inspira todas as grandes aventuras.

Arrasta os bandidos modernos ao roubo, ao assassínio, à exploração económica e financeira da sociedade.

Edifica hospitais, universidades e igrejas. Impele o homem para a fortuna e para a morte, para o heroísmo ou para o crime. Mas nunca lhe dá a felicidade.

A segunda forma é a fuga. Uns abandonam a luta e descem até um nível social em que a competição deixa de ser necessária.

Tornam-se trabalhadores das fábricas, proletários. Os outros refugiam-se em si próprios. Podem, ao mesmo tempo, acomodar-se parcialmente ao meio, e conquistá-lo até, graças à superioridade da sua inteligência…

Mas não lutam. Só aparentemente fazem parte dum mundo ao qual a sua vida interior os subtrai. Outros ainda esquecem o meio trabalhando sem descanso.

Aqueles que são obrigados a agir continuamente adaptam-se a todos os acontecimentos.

A mulher cujo filho morre, mas que tem de cuidar de mais uns poucos, não tem tempo de pensar na sua dor.

O trabalho é uma maneira de suportar as condições adversas do meio, muito mais eficaz do que o álcool ou a droga.

Certos indivíduos passam a vida inteira a sonhar com a fortuna, a saúde, a felicidade. As ilusões e a esperança, são também meios poderosos de adaptação.

A esperança gera a acção. É justificadamente que o cristianismo a considera uma grande virtude. É um dos factores mais activos do ajustamento do indivíduo a um meio desfavorável.

Finalmente, há a adaptação pelo hábito. As dores esquecem mais depressa do que as alegrias.

Mas a inacção aumenta todos os sofrimentos da vida. A ociosidade é a maior infelicidade que a civilização científica trouxe aos homens.