Perturbações do espírito

As perturbações funcionais dessas glândulas, assim como as lesões estruturais do cérebro, podem ser responsáveis pelas neuroses e pelas psicoses. Mesmo um conhecimento completo destes fenómenos não nos faria progredir muito.

A chave da patologia do espírito está na psicologia, tal como a dos órgãos na fisiologia. Mas esta é uma ciência, ao passo que a psicologia não o é.

A psicologia espera ainda o seu Claude Bernard ou o seu Pasteur. Está ainda no mesmo estado da cirurgia na época em que os cirurgiões eram barbeiros, da química antes de Lavoisier, no tempo dos alquimistas.

Nem os psicólogos modernos nem os seus métodos devem ser incriminados por causa do estado rudimentar da sua ciência; a causa principal da nossa ignorância é a extrema complexidade do assunto.

Não há técnicas que permitam penetrar no mundo desconhecido das células cerebrais, das suas fibras de projecção e de associação, e dos processos cerebrais e mentais.

É impossível descobrir relações exactas entre os sintomas esquizofrénicos, por exemplo, e as alterações do córtex cerebral. As esperanças de Kroeplin não se realizaram.

O estudo anatómico das doenças mentais não trouxe muita luz sobre a sua natureza. É possível até que não exista localização especial das perturbações do espírito.

Certos sintomas podem ser atribuídos a perturbações da sucessão temporal dos fenómenos, a modificações do valor do tempo para os elementos nervosos dum sistema funcional.

Sabe-se, por outro lado, que as destruições celulares produzidas em certas regiões, quer pelos espiroquetas da sífilis, quer pelo agente desconhecido da encefalite letárgica, produzem modificações da personalidade muito definidas.

Este conhecimento é vago, incerto, está ainda em formação. Contudo, é indispensável não esperar que se tenha completado e que conheçamos a natureza das doenças mentais para desenvolver uma higiene do espírito verdadeiramente eficaz.

Seria mais importante saber-se as causas das doenças mentais do que conhecer-se a sua natureza. Só assim se poderiam evitar essas doenças.

A idiotia e a loucura são talvez o preço da civilização industrial, e o resultado das modificações na maneira de viver que trouxe consigo.

Não obstante, tais doenças fazem, muitas vezes, parte da herança recebida de seus pais por cada indivíduo.

Manifestam-se principalmente nos grupos humanos em que o sistema nervoso já se encontra desequilibrado. Nas famílias que já produziram indivíduos neuróticos, estranhos, demasiado sensíveis, vêem-se aparecer loucos e idiotas.

Contudo, as doenças mentais também se manifestam entre as famílias até aí indemnes. Na sua produção entram, sem dúvida, outros factores além dos hereditários. Devemos, portanto, procurar saber de que modo a vida moderna age sobre a patologia do espírito, como aparece e a que se deve, por exemplo, a demência ou a doença de Alzheimer.