Tendências

As tendências ancestrais, que se transmitem segundo as leis de Mendel e outras, imprimem um aspecto particular ao desenvolvimento de cada indivíduo.

Exigem naturalmente, para se manifestar, o concurso do meio externo. As potencialidades dos tecidos e da consciência actualizam-se graças aos factores químicos, fisiológicos e mentais desse meio.

Não se pode, em geral, distinguir num indivíduo o que é hereditário do que é adquirido.

Na verdade, certas particularidades, tais como a cor dos olhos e do cabelo, a miopia, a idiotia, são evidentemente de origem ancestral.

Mas a maior parte das outras são devidas à influência do meio sobre os tecidos e a consciência.

O desenvolvimento do corpo toma direcções diferentes segundo os factores externos. E as propriedades imanentes do indivíduo actualizam-se ou permanecem virtuais.

É certo que as tendências hereditárias são profundamente influenciadas pelas circunstâncias da formação do indivíduo. Mas também é verdade que cada um se desenvolve segundo as suas próprias regras, segundo a qualidade específica dos seus tecidos.

Além disso, tanto a intensidade original destas tendências como a sua capacidade de actualização sofrem variações.

O futuro de certos indivíduos é fatalmente determinado, ao passo que o doutros depende mais ou menos das condições do desenvolvimento.

Mas é impossível predizer em que medida as tendências hereditárias duma criança serão modificadas pelo género de vida, pela educação, pelo meio social.

Nunca se conhece a constituição genética dos tecidos.

Ignora-se de que modo se agruparam ao ovo do qual provêm os genes dos pais e avós de cada ser humano.

Não se sabe se nele existirão quaisquer partículas nucleares de algum antepassado longínquo, nem tão-pouco se uma modificação espontânea dos próprios genes não fará aparecer nele caracteres imprevisíveis.

Acontece por vezes que uma criança, descendente de várias gerações cujas tendências julgávamos conhecer, manifesta um aspecto totalmente novo. Podem, contudo, predizer-se, dentro de certos limites, os resultados prováveis da acção do meio sobre um dado indivíduo.

Um observador cuidadoso pode dar conta, desde o começo da vida duma criança, da significação dos caracteres em via de formação. Uma criança mole, apática, desatenta, medrosa e inactiva não pode ser transformada pelas condições do desenvolvimento num homem enérgico, num chefe autoritário e audacioso.

A vitalidade, a imaginação, o espírito de aventura não vêm inteiramente do meio; e também é provável que este não os possa reprimir. Na verdade, as circunstâncias do desenvolvimento não agem senão nos limites das predisposições hereditárias, das qualidades imanentes dos tecidos e da consciência.

Mas nunca se sabe com exactidão qual é a natureza destas predisposições. Devemos comportar-nos, contudo, como se elas fossem favoráveis. É preciso dar a cada indivíduo uma formação que permita o desabrochar das suas qualidades virtuais.