Características humanas

Os seres humanos prestam-se mal à observação e à experiência. Não é fácil encontrar pessoas com características idênticas. É quase impossível verificar os resultados duma experiência, pela dificuldade de a verificar por meio de uma comparação.

Suponhamos, por exemplo, que se pretende comparar dois métodos de educação. Escolher-se-ão para esse estudo dois grupos de crianças tão semelhantes quanto possível.

Se estas crianças, embora da mesma idade e da mesma estatura, pertencerem a meios sociais diferentes, se não tiverem a mesma alimentação, se não viverem na mesma atmosfera psicológica, os resultados não poderão ser comparados.

Do mesmo modo, o estudo dos efeitos de dois géneros de vida sobre crianças da mesma família tem pouco valor, porque, não sendo as raças humanas puras, os produtos dos mesmos pais diferem frequentemente de maneira profunda uns dos outros.

Os resultados serão, pelo contrário, concludentes, se as crianças cujo comportamento sob a influência de condições diferentes se compara, forem gémeos provenientes do mesmo ovo.

Em geral, temos de nos contentar com resultados aproximativos. É este um dos factores que têm impelido o progresso da ciência do homem.

Mas, quando se trata de entender o homem no seu conjunto, e nas suas relações com o seu meio, semelhante limitação do assunto é impossível.

É por isso que o investigador deve ser dotado de grande sagacidade, para que não se perca na complexidade dos fenómenos.

As dificuldades tornam-se quase insuperáveis nos estudos retrospectivos.

Investigações desta ordem requerem um espírito muito experimentado. É certo que devemos utilizar o menos possível uma ciência conjectural como é a história. Mas, deram-se, no passado, certos acontecimentos que revelam a existência, no homem, de potencialidades extraordinárias.

Seria da maior importância o conhecimento da sua génese. Quais são os factores que determinaram, na era de Péricles, o aparecimento simultâneo de tantos génios?

Fenómeno análogo produziu-se na Renascença. Quais as causas do imenso desabrochar, não só da inteligência, da imaginação científica e da intuição estética, mas também o vigor físico, da audácia e do espírito de aventura dos homens dessa época?

Porque foram dotados de tão poderosas actividades fisiológicas e mentais?

Concebe-se quão útil seria conhecer os pormenores do género de vida, da alimentação, da educação, do meio intelectual, moral, estético e religioso das épocas que precederam imediatamente o aparecimento das plêiades de grandes homens.