Individualidade

Os grupos de átomos que compõem aquelas moléculas e as possíveis modificações das suas posições no edifício molecular são numerosíssimas.

Entre os seres humanos que se têm sucedido na terra, não houve certamente dois cuja constituição química tenha sido idêntica.

A individualidade dos tecidos está ligada, por uma forma ainda desconhecida, às moléculas que entram na construção das células e dos humores. O fundamento da nossa individualidade acha-se, portanto, no mais profundo de nós próprios.

A individualidade mostra-se em todo o corpo. Tanto reside nos processos fisiológicos como na estrutura química dos humores e das células.

Cada um de nós reage a seu modo aos acontecimentos do mundo exterior, ao ruído, ao perigo, aos alimentos, ao frio, ao calor, aos ataques dos micróbios e dos vírus.

Quando, em animais de raça pura, se injectam quantidades iguais duma proteína estranha, ou duma suspensão de bactérias, esses animais nunca reagem uniformemente, e alguns nem sequer reagem.

Durante as grandes epidemias, os seres humanos comportam-se segundo as suas características próprias. Uns caem doentes e morrem. Outros adoecem, mas curam-se. Outros ainda permanecem inteiramente refractários. Outros, finalmente, são ligeiramente afectados pela doença, mas sem apresentarem sintomas definidos.

Cada qual mostra diferente capacidade de adaptação. Há, como disse Richet, ao mesmo tempo que uma personalidade psicológica, uma personalidade humoral.

A duração fisiológica deixa ver igualmente o sinal da nossa individualidade. O seu valor, como se sabe, varia para cada um de nós. Além disso, não se mostra constante durante toda a vida.

Assim como cada acontecimento se inscreve no fundo de nós próprios, assim também a nossa personalidade orgânica e humoral se torna mais e mais específica à medida que envelhecemos, enriquecendo-se de tudo o que se passa no nosso mundo interior.

Porque as células e os humores são dotados de memória, tal como o espírito. As doenças, as injecções de soro ou de vacina, as invasões do nosso corpo pelas bactérias, vírus ou substâncias químicas estranhas modificam-se permanentemente.

Estes acontecimentos produzem em nós estados alérgicos, estados em que o nosso poder de reacção é modificado.

É assim que os tecidos e humores adquirem uma individualidade cada vez mais acentuada.

Os velhos são muito mais diferentes entre si do que as crianças. Cada homem é uma história diferente de todas as outras.