Funções adaptativas

As funções adaptativas assumem tantos aspectos quantas forem as novas situações que se apresentem aos tecidos e humores.

Não constituem a expressão particular de qualquer sistema orgânico. Somente pelo seu fim se podem definir.

Os seus meios variam, mas o fim é sempre o mesmo; a sobrevivência do indivíduo.

Quando se considera a adaptação em todas as suas manifestações, aparece como agente da estabilização e das reparações orgânicas, a causa do aparecimento dos órgãos pelo uso, o laço que faz dos tecidos e dos humores, um todo persistente no meio da variabilidade do mundo exterior.

É cómodo representá-lo como uma entidade, porque esta convenção permite-nos descrever os seus caracteres. Mas, na realidade, a adaptação é um aspecto de todos os processos fisiológicos e dos seus componentes físico-químicos.

Quando um sistema se encontra em equilíbrio, e este está em risco de ser modificado por qualquer factor, dá-se uma reacção que tem por fim opor-se a esse factor.

Dissolvendo-se açúcar na água, a temperatura desce e o arrefecimento diminui a solubilidade do açúcar.

É o princípio de Le Chatelier. Quando um exercício muscular violento aumenta a quantidade de sangue venoso que flui para dentro do coração, os centros nervosos têm conhecimento disso pelos nervos da aurícula e provocam uma aceleração das pulsações cardíacas. Deste modo o excesso de sangue venoso desaparece.

Entre o princípio de Le Chatelier e esta adaptação fisiológica há apenas uma analogia superficial. No primeiro caso, um equilíbrio tende a conservar-se por meios físicos. No segundo, num estado dotado de estabilidade, e não um equilíbrio, mantém-se com o auxílio dos processos fisiológicos.

Se, em vez de sangue, é um tecido que modifica o seu estado, produz-se fenómeno análogo. A extirpação dum pedaço de pele põe em movimento uma reacção complexa que, por mecanismos convergentes, repara a perda de substâncias. Nestes dois exemplos, o excesso de sangue venoso e a ferida são os factores que modificam o estado do organismo.

A estes factores opõe-se um encadeamento de processos fisiológicos que têm o seu remate, num caso, na aceleração das pulsações do coração, no outro, a cicatrização.

Quanto mais um músculo trabalha, mais se desenvolve. O trabalho, em vez de o gastar, fortifica-o.

É um dado imediato que as actividades fisiológicas e mentais são melhoradas pelo uso, e também que o esforço é indispensável ao máximo desenvolvimento do indivíduo.

Quer a inteligência quer o senso moral se atrofiam, como os músculos, por falta de exercício.

A lei do esforço é ainda mais importante do que a constância dos estados orgânicos. A estabilidade do meio interno é, sem dúvida, indispensável à sobrevivência do corpo. Mas o progresso fisiológico e mental de cada um de nós depende da nossa actividade funcional e dos nossos esforços. Pela degenerescência, o ser humano acomoda-se ao não emprego dos seus sistemas viscerais.