Ensinamentos

Edison, por exemplo, não hesitava em comunicar ao público as suas opiniões sobre a filosofia e religião. E o público acolhia com respeito a sua palavra, imaginando que ele tinha, sobre aqueles novos assuntos, mesma autoridade que sobre os antigos.

É assim que os grandes homens, ensinando aquilo que ignoram, retardam, num dois seus domínios, o progresso humano para que contribuíram noutro.

A imprensa quotidiana comunica-nos, com frequência, as lucubrações sociológicas, económicas e científicas de industriais, de banqueiros, de advogados, de professores, de médicos…, cujo espírito, por demais especializados, é incapaz de apreender, em toda a sua amplitude, os grandes problemas da hora presente.

Os especialistas são necessários, é certo. Sem eles a ciência não pode progredir. Mas a aplicação ao homem dos resultados dos seus esforços exige a síntese prévia dos dados da análise.

Tal síntese não se pode obter pela simples reunião dos especialistas à volta de uma mesa. Exige o esforço, não dum grupo, mas dum homem.

Nunca uma obra de arte foi feita por um “comité” de artistas, nem uma grande descoberta por um grupo de sábios.

As sínteses de que temos necessidade para o progresso do conhecimento de nós próprios devem ser elaboradas num único cérebro.

Actualmente, os dados acumulados pelos especialistas permanecem inutilizáveis, porque ninguém coordena as noções adquiridas, nem considera o ser humano no seu conjunto.

Possuímos muitos trabalhadores científicos, mas muito poucos verdadeiros sábios. Esta singular situação não é devida à ausência de indivíduos capazes de grande esforço intelectual. É certo que as grandes sínteses reclamam um grande poder mental e uma resistência física a toda a prova.

Os espíritos largos e fortes são mais raros do que os espíritos precisos e limitados. É fácil chegar a ser um bom químico, um bom físico, um bom fisiologista ou um bom psicólogo. Só os homens excepcionais são capazes de adquirir um conhecimento utilizável de várias ciências, ao mesmo tempo.

De entre aqueles que as nossas instituições científicas e universitárias obrigam a especializar-se com demasiada estreiteza, alguns seriam capazes de aprender um grande assunto ao mesmo tempo na sua totalidade e nas suas partes.

Até hoje, os trabalhadores científicos que assentam arraiais num campo estreito e se consagram ao estudo prolongado duma particularidade muitas vezes insignificante foram sempre favorecidos.

Dá-se maior valor a um trabalho original sem importância do que ao conhecimento aprofundado duma ciência inteira.

Uma ciência tem mais necessidade de espíritos superiores no seu começo que no seu apogeu. Por exemplo, é preciso mais imaginação, mais critério, mais inteligência para se chegar a ser um grande médico do que para se ser um grande químico.

Neste momento o conhecimento do homem não pode progredir senão atraindo a si um poderoso escol intelectual. Devemos exigir altas capacidades mentais aos jovens que desejam consagrar-se à biologia.

Parece que o exagero da especialização, o aumento do número de trabalhadores científicos e a sua divisão em sociedades, limitadas ao estudo dum pequeno assunto, produziram uma atrofia da inteligência.

O melhor processo de aumentar a inteligência dos sábios seria a diminuição do seu número. Bastaria um pequeno grupo de homens para desenvolver os conhecimentos de que temos necessidade, caso esses homens fossem dotados de imaginação e dispusessem de poderosos meios de trabalho.