Estados de consciência

Todos os estados de consciência têm provavelmente uma expressão orgânica. Como se sabe, as emoções são acompanhadas por modificações da circulação do sangue, e provocam, por intermédio dos nossos vaso-motores, a dilatação e a contracção das pequenas artérias.

O prazer faz corar a face; a cólera, o medo, fazem perder a cor. Nalguns indivíduos, uma má notícia pode provocar a contracção das artérias coronárias, a anemia do coração e a morte repentina.

Pelo aumento ou diminuição da circulação local, os estados afectivos agem sobre todas as glândulas, aceleram ou detêm a suas secreções, e chegam a modificar as suas actividades químicas.

A vista e o desejo dum alimento provocam a salivação. Este fenómeno produz-se mesmo na ausência do alimento. Pavlov observou que a secreção salivar podia ser provocada no cão, não só pela presença dos alimentos, mas pelo som duma sineta, se esta se tivesse tocado previamente, enquanto o animal comia.

As emoções accionam mecanismos complicados: quando se provoca um cão com o sentimento do medo, como fez Cannon numa experiência célebre, os vasos das glândulas supra-renais dilatam-se, as glândulas segregam adrenalina, esta aumenta a pressão sanguínea e a rapidez da circulação, e perpara o todo orgânico para o ataque ou para a defesa.

Compreende-se, pois, como a inveja, o ódio, o medo, quando tais sentimentos são habituais, podem provocar modificações orgânicas e até doenças.

Os sofrimentos morais afectam profundamente a saúde. Os homens de negócios, quando não sabem defender-se das preocupações, morrem novos.

Os antigos clínicos pensavam até que os desgostos persistentes, a ansiedade constante, preparavam o caminho ao desenvolvimento do cancro.

Nos indivíduos particularmente sensíveis, as emoções provocam modificações dos tecidos e dos humores verdadeiramente impressionantes.

Os cabelos duma mulher condenada à morte durante a segunda guerra mundial, embranqueceram repentinamente durante a noite que precedeu a execução.

No decorrer dum bombardeamento, manifestou-se a erupção da pele, uma urticária, num braço de outra mulher; a seguir à explosão de cada obus, a erupção aumentava e tornava-se mais vermelha.

Joltrain provou que um choque moral é capaz de produzir modificações do sangue dignas de registo: um doente depois de ter sofrido um grande susto, mostrava uma queda de pressão arterial, diminuição do número de glóbulos brancos e do tempo de coagulação do plasma sanguíneo.

A expressão francesa “se faire du mauvais sang” é literalmente verdadeira. O pensamento pode produzir lesões orgânicas. A instabilidade da vida moderna, a agitação incessante, a falta de segurança, provocam estados de consciência que se traduzem por perturbações nervosas e estruturais do estômago e do intestino, pela desnutrição e pela passagem dos micróbios intestinais para o aparelho circulatório.

As colites e as infecções dos rins e da bexiga que as acompanham são o resultado remoto de desequilíbrios mentais e morais.

Tais doenças são quase desconhecidas nos meios sociais em que a vida se conservou mais simples e menos agitada, em que a inquietação é mais rara.

Igualmente, aqueles que, no tumulto da cidade moderna, mantêm a calma interior, estão ao abrigo das perturbações nervosas e viscerais.