O método...

À primeira vista, o método científico não parece ser aplicável ao estudo da totalidade das nossas actividades. E parece também haver muita falta de verdadeiros cientistas.

É evidente que nós não somos capazes de penetrar em todas as regiões em que o ser humano se prolonga.

As nossas técnicas não apreendem o que não tem dimensões nem peso. Não atingem senão coisas presentes no espaço e no tempo.

São impotentes para medir a vaidade, o ódio, o amor, a beleza, a elevação para Deus da alma religiosa, o sonho do sábio e o do artista. Mas registam facilmente o aspecto fisiológico e os resultados materiais desses estados psicológicos.

A actividade mental e espiritual, quando tem um lugar importante na nossa vida, exprime-se por um certo comportamento, por certos actos, por uma certa atitude para com os nossos semelhantes.

É por este processo indirecto que podemos explorar as funções mentais estéticas e místicas.

Temos também à nossa disposição os testemunhos daqueles que viajaram por essas regiões desconhecidas.

Mas, a expressão verbal das suas experiências é, em geral desconcertante. Fora do domínio intelectual, nada se pode definir de maneira clara. Mas a impossibilidade de definir uma coisa não significa a sua não existência.

Quando se navega no nevoeiro, os rochedos invisíveis estão, não obstante, presentes. A sua forma ameaçadora surge de quando em quando, e tornam a sumir-se na bruma.

Sucede o mesmo com a realidade evanescente das visões dos artistas e sobretudo dos grandes místicos. Tais coisas, inapreensíveis pelas nossas técnicas, deixam contudo sobre os iniciados uma marca visível.

É por esta via directa que a ciência conhece o mundo espiritual, no qual, portanto, não pode penetrar. O ser humano inteiro acha-se, portanto, sob a jurisdição das técnicas científicas.

Em suma, a crítica dos dados que possuímos sobre o homem fornece-nos noções positivas e numerosas.

Graças a estas noções, podemos fazer um inventário completo das nossas actividades. Este inventário permitir-nos-á constituir esquemas mais ricos do que esquemas clássicos.

Mas o progresso assim obtido não será muito grande. É preciso ir mais longe e edificar uma verdadeira ciência do homem. Uma ciência que, com o auxílio de todas as técnicas conhecidas, fará uma exploração mais profunda do nosso mundo interior, e, também, tornará efectiva a necessidade de estudar cada parte em função do todo.

Para desenvolver uma ciência assim, seria necessário desviar a nossa atenção, durante algum tempo, do progresso mecânico, e até, em certa medida, da higiene clássica. Todos se interessam pelo que aumenta a riqueza e o conforto. Mas ninguém se dá conta que urge melhorar a qualidade estrutural, funcional e mental de cada um de nós.

A saúde da inteligência e dos sentimentos afectivos são tão necessários como a saúde e a prevenção das doenças infecciosas.

PS: Obrigado a todos os que enviaram mensagens.