A purificação do sangue

O sangue mantém a sua composição porque atravessa continuamente aparelhos em que se purifica, e em que consegue as substâncias nutritivas utilizadas pelos tecidos.

Quando o sangue venoso regressa dos músculos e dos órgãos, vem carregado de ácido carbónico e de todos os resíduos da nutrição.

As contracções do corpo impelem-nos então para a intensa rede de capilares dos pulmões, onde cada glóbulo vermelho entra em contacto com o oxigénio atmosférico.

Este gás, segundo certas leis físico-químicas muito simples, penetra no sangue, fixando-se na hemoglobina dos gçóbulos vermelhos.

Ao mesmo tempo, o ácido carbónico foge para os brônquios, onde os movimentos respiratórios o expulsam para o exterior. Quanto mais rápida for a respiração, mais activas serão as trocas químicas entre o ar e o sangue.

Mas, na travessia pulmonar, o sangue liberta-se apenas do ácido carbónico. Contém ainda ácidos não voláteis, e todos os outros resíduos do metabolismo. É na sua passagem pelos rins que acaba de se purificar.

Os rins separam do sangue os produtos que devem ser eliminados, e expelem a quantidade de sais que são indispensáveis ao plasma para manter constante a sua tensão osmótica..

O trabalho dos pulmões e dos rins é duma eficácia prodigiosa. A eles se deve que o volume necessário à vida dos tecidos seja tão reduzido, e que o corpo humano possua tão grande densidade e agilidade.

As substâncias nutritivas que o sangue leva aos tecidos provêm de três origens: do ar atmosférico por intermédio dos pulmões, da superfície intestinal e das glândulas endócrinas.

Todas as substâncias utilizadas pelo organismo, com excepção do oxigénio, lhes são fornecidas, directa e indirectamente, pelo intestino.

Os alimentos são tratados sucessivamente pela saliva, pelo suco gástrico, pelas secreções do pâncreas, do fígado e da mucosa intestinal.

Os fermentos digestivos dividem, em fragmentos mais pequenos, as moléculas das proteínas, dos hidratos de carbono e das gorduras. Estes fragmentos podem transpor a barreira das mucosas, que defende o nosso mundo interior. São então absorvidas pelo sangue e pela linfa da mucosa intestinal, e penetram no meio orgânico.

Certas gorduras e a glicose são as únicas substâncias que entram no corpo sem ser previamente modificadas. Por esta razão, a consistência das partes adiposas varia segundo a natureza das gorduras vegetais ou animais contidas nos alimentos.

É possível, por exemplo, tornar dura ou mole a gordura dum cão, alimentando-o quer com gorduras nem elevado ponto de pressão, quer com azeite líquido à temperatura do corpo.

Quanto às matérias proteicas, os fermentos reduzem-nas aos seus ácidos aminados constitutivos, perdendo assim a sua individualidade.

Após a digestão intestinal, nos ácidos aminados e nos grupos de ácidos aminados provenientes das proteínas da carne de boi e de carneiro e do trigo, não ficam nenhuns vestígios das suas diversas origens: atravessam a mucosa intestinal, e criam no corpo novas proteínas, específicas do ser humano e do indivíduo.

A parede do intestino protege quase completamente o organismo da invasão de moléculas peculiares dos tecidos de outros seres, plantas ou animais, permitindo, contudo, por vezes, a passagem das proteínas vegetais ou animais dos alimentos.

É assim que o corpo pode resistir, ou ser sensível, sem que isso seja motivo, a muitas substâncias estranhas. A barreira que o intestino opõe ao mundo interior nem sempre é intransponível.