Individualidade e personalidade

Cada indivíduo tem consciência de ser único. Esta unidade é real. Mas o grau de individualização varia muito.

Certas personalidades são muito ricas e firmes; outras, fracas e modificáveis, segundo o meio e as circunstâncias.

Entre o simples enfraquecimento da personalidade e as psicoses, há uma longa série de estados intermediários.

Algumas neuroses dão às suas vítimas o sentimento de dissolução da sua personalidade. Outras doenças destroem-na efectivamente.

A encefalite letárgica produz lesões cerebrais que provocam profundas modificações do indivíduo. O mesmo sucede com a demência precoce e com a paralisia geral.

Noutras doenças, as modificações psicológicas são apenas temporárias. A histeria provoca às vezes o desdobramento da personalidade.

O doente converte-se em dois indivíduos diferentes, e cada uma destas pessoas artificiais ignora os actos da outra.

Também durante o sono hipnótico se podem provocar modificações da identidade do paciente.

Se se lhe impuser, por sugestão, outra personalidade, adoptará as respectivas atitudes, sentirá as respectivas emoções.

Ao lado dos indivíduos que se dissociam em várias pessoas, há aqueles que só parcialmente o fazem. Podem colocar-se nesta categoria os que praticam a escrita automática, certos médiuns, e finalmente os seres grotescos e vacilantes que pululam na sociedade moderna.

Não é ainda possível a realização dum inventário completo da individualidade psicológica, nem da medida dos seus elementos; nem tão-pouco se pode determinar exactamente em que consiste essa individualidade, de que modo um indivíduo difere doutro.

Não se pode, sequer, descobrir num homem os seus caracteres essenciais, e muito menos as suas potencialidades.

Seria, contudo, necessário que cada indivíduo se inserisse no meio social segundo as suas aptidões e as suas actividades mentais e fisiológicas específicas.

Isso é-lhe impossível, porque se ignora a si próprio; a ignorância é partilhada, aliás, pelos pais e pelos educadores.

Nem uns nem outros sabem distinguir nas crianças a natureza da sua individualidade; pelo contrário, o que se procura é a estandardização.

Os homens de negócios não utilizam as qualidades pessoais dos seus empregados, e ignoram que os indivíduos são todos diferentes uns dos outros. Em geral, ignoramos as suas aptidões próprias. Contudo um indivíduo não pode fazer seja o que for. Segundo os seus caracteres, cada pessoa adapta-se mais facilmente a um certo trabalho, a um certo género de vida.

Deveria existir entre um indivíduo e o seu grupo social a mesma correlação que há entre uma fechadura e a respectiva chave. O conhecimento das qualidades imanentes da criança, assim como a das suas virtualidades, impõe-se como primeira preocupação que devem ter os pais e os educadores.