Marginalização

Muitos indivíduos não chegam nunca a adaptar-se ao seu grupo social. Entre eles encontra-se os idiotas, que não têm lugar na sociedade moderna, excepto nalgumas instituições para eles destinadas.

Muitas crianças normais nascem entre degenerados e criminosos. Nesse meio formam o seu corpo e a sua consciência. Depois, são inadaptáveis à vida normal.

Por elas é constituída a população das prisões, assim como aquela, muito mais numerosa, que vive em plena liberdade, do roubo e do assassínio.

Estes serem são o fatal resultado da degradação moral e fisiológica que a civilização industrial trouxe consigo. São irresponsáveis, tanto como as crianças educadas nas escolas modernas por professores ignorantes da necessidade do esforço, da concentração intelectual, da disciplina moral.

Mais tarde, quando se defrontam com a indiferença do mundo, com as dificuldades materiais e mentais da vida, são incapazes de se lhes adaptar, excepto pela fuga, pela procura dum auxílio, duma protecção, e até pelo crime e pelo suicídio.

Embora com bons músculos, falta-lhes a resistência nervosa e moral, recuam perante o esforço e a privação.

Vemo-los, em períodos de crise, implorar abrigo e alimentos à comunidade.

Semelhantes nisso aos produtos dos meios criminosos ou demasiado miseráveis, são incapazes de conquistar o seu lugar na cidade nova.

Certas formas da nossa vida conduzem directamente à degenerescência dos indivíduos. Há condições sociais tão fatais como os climas quentes e húmidos.

Conseguimos adaptar-nos à pobreza, às preocupações, aos desgostos, pelo trabalho e pela luta. Podemos, sem degenerar, sofrer a tirania, as revoluções, a guerra.

Mas nem nos acostumamos à miséria nem à prosperidade. A extrema pobreza produz sempre o enfraquecimento do indivíduo e da humanidade.

O mesmo acontece com a riqueza sem responsabilidade.

Há, contudo, famílias que durante séculos possuíram o dinheiro e o poder, e permanecem fortes.

Mas o poder e o dinheiro vinham outrora da propriedade da terra, e tornaram necessários a luta, o esforço, o trabalho contínuo.

Hoje, a riqueza não está ligada a qualquer obrigação. Produz sempre o enfraquecimento dos homens.

O ócio, mesmo sem a riqueza, também é um perigo. Nem os cinemas nem os desportos, nem a rádio ou a televisão, nem os automóveis ou os desportos substituem o trabalho inteligente e a actividade útil.

Estamos longe de ter resolvido o mais terrível problema da sociedade moderna, a falta de ocupação. Com certeza, só o poderemos resolver por meio duma revolução social e moral.

Actualmente achamo-nos tão incapazes de lutar contra a ociosidade como contra o cancro e as doenças mentais.