O homem

O homem não é divisível. Se se isolassem os seus órgãos uns dos outros, deixaria de existir. Embora indivisível, apresenta aspectos diversos. Esses aspectos são a manifestação heterogénea, aos nossos órgãos dos sentidos, da sua unidade.

Podíamos compará-lo a uma lâmpada eléctrica que apresenta aspectos diversos, a um termómetro, a um voltâmetro e a uma chapa fotográfica. Não podemos apreendê-lo directamente da sua simplicidade.

Fazemo-lo por intermédio dos nossos sentidos e dos nossos aparelhos científicos.

Segundo os nossos meios de investigação, a sua actividade aparece-nos como física, químico-biológica, ou psicológica.

Devido precisamente à sua riqueza, necessita duma análise feita por meio de técnicas variadas. Ao mostrar-se-nos por intermédio dessas técnicas, toma naturalmente o aspecto de multiplicidade.

A ciência do homem serve-se de todas as outras ciências. É uma das razões da sua dificuldade.

Para entender, por exemplo, a influência de um factor psicológico sobre um indivíduo sensível, é preciso empregar os processos da medicina, da fisiologia, da física e da química.

Suponhamos, com efeito, que uma notícia é anunciada ao indivíduo com o qual se fazem experiências. Este acontecimento psicológico pode traduzir-se, simultaneamente, por um sofrimento moral, por perturbações nervosas, por desordens da circulação sanguínea, por modificações físico-químicas do sangue…

No homem, a mais simples experiência exige sempre o uso dos métodos e dos conceitos de várias ciências.

Se se pretende examinar o efeito dum certo alimento animal ou vegetal, sobre um grupo de indivíduos, é preciso conhecer em primeiro lugar a composição química desse alimento, e em seguida o estudo fisiológico e psicológico dos indivíduos sobre os quais se quer fazer o estudo, assim como os seus caracteres ancestrais.

Finalmente, no decorrer da experiência, registam-se modificações do peso, da estatura, da forma do esqueleto, da força muscular, da susceptibilidade às doenças, dos caracteres físicos, químicos e anatómicos do sangue, do equilíbrio nervoso, da inteligência, da coragem, da fecundidade, da longevidade…

É evidente que nenhum sábio, por si só, pode tornar-se senhor das técnicas necessárias ao estudo dum único problema humano. Por isso, o progresso do conhecimento de nós próprios exige especialistas variados.

Cada especialista absorve-se no estudo duma parte do corpo, ou da consciência, ou das relações com o meio.

Será anatomista, fisiologista, químico-psicológico, médico, higienista, educador, padre, sociólogo, economista. E cada especialista subdivide-se em partes mais e mais limitadas.

Há especialistas para a fisiologia das glândulas, das vitaminas, para as doenças do recto, do nariz, para a educação das crianças, para a dos adultos, para a higiene das fábricas, das prisões, para a psicologia de toda a espécie de indivíduos, para a economia doméstica, para a economia rural…

Foi graças a esta divisão do trabalho que as ciências particulares se desenvolveram.

A especialização dos sábios é indispensável. E é impossível a um especialista activamente empenhado na sua tarefa, conhecer o conjunto do ser humano. Tal situação tornou-se necessária devido à grande extensão de cada ciência.

Acontece que certos sábios, que se distinguiram de maneira extraordinária por grandes descobertas ou por invenções úteis, chegam a crer que o seu conhecimento dum assunto se estende a todos os outros.