O tempo interior - I

Seria mais útil encontrar um método para rejuvenescer os indivíduos, cujas qualidades fisiológicas e mentais justificassem semelhante medida. Pode conceber-se o rejuvenescimento como uma reversão total do tempo interior.

Por meio duma operação, o doente regressaria a um período anterior da sua vida. Seria amputado duma certa parte da sua quarta dimensão.

Sobo ponto de vista prático, é preciso considerá-lo como uma reversão parcial da duração fisiológica. A duração do tempo psicológico não seria modificada.

A memória persistiria. Somente o corpo seria rejuvenescido. A pessoa poderia, por meio dos órgãos revigorados, utilizar a experiência duma longa vida.

Nas tentativas feitas por Steinach, Voronov e outros, deu-se o nome de rejuvenescimento ao melhoramento do estado geral, a um sentimento de força e de elasticidade, à revivescência das funções genésicas.

Mas o melhor aspecto que mostra um velho após o tratamento não significa que tenha rejuvenescido. Só o estudo da constituição química do soro, e das suas reacções funcionais, é que pode revelar uma mudança da idade fisiológica. Um aumento permanente do índice de crescimento do soro provaria a realidade do resultado obtido.

Em suma, o rejuvenescimento corresponde a certas modificações fisiológicas e químicas que podem medir-se no plasma sanguíneo. Contudo, a falta desses sinais não significa que a idade do doente não tenha diminuído.

Entre as antigas crenças médicas, encontra-se a da virtude do sangue jovem, e do seu poder de comunicar a juventude a um corpo velho e fatigado.

O Papa Inocêncio VII fez transfundir para as suas veias o sangue de três jovens… mas morreu após a operação. É plausível que a morte fosse motivada pela própria técnica da transfusão.

Parece provável que a introdução de sangue novo no organismo dum velho possa produzir modificações favoráveis.

A velhice, como se sabe, não se deve a que uma única glândula deixe de funcionar, mas a certas modificações de todos os tecidos e dos humores. A perda da actividade das glândulas sexuais não é a causa da velhice, mas apenas uma das suas consequências.

É provável que nem Steinach nem Voronov tenham jamais observado um verdadeiro rejuvenescimento. Contudo, o seu insucesso de modo algum significa que seja impossível conseguir o rejuvenescimento.

É plausível que a reversão parcial do tempo fisiológico venha a tornar-se realizável. Sabe-se que a nossa duração consiste em certos processos estruturais e funcionais. A verdadeira idade depende dum movimento progressivo dos tecidos e dos humores, os quais são mutuamente solidários.

Se se substituíssem as glândulas e o sangue dum velho pelas glândulas duma criança morta à nascença e pelo sangue dum adolescente, é possível que o velho rejuvenescesse.

Mas antes que uma tal operação seja possível, será necessário vencer muitas dificuldades técnicas e até éticas e morais. Não sabemos ainda como escolher órgãos apropriados para um dado indivíduo, embora se pratiquem muitos transplantes capazes de se adaptarem ao seu novo possuidor. Os progressos da ciência são rápidos. Graças às técnicas existentes e àquelas que se vão descobrindo, poderemos prosseguir na busca do grande segredo.

O homem jamais se cansará de aspirar à imortalidade. Não a conseguirá, porque lha vedam as leis da sua constituição orgânica. É fora de dúvida que conseguirá retardar, e, porventura, até inverter durante alguns anos a marcha inexorável do tempo fisiológico. Mas jamais vencerá a morte. Porque esta é o preço que temos de pagar pelo nosso cérebro e pela nossa personalidade. Mas a medicina há-de fazer-nos saber um dia que a velhice, liberta das enfermidades do corpo e da alma, não deverá ser receada. A maior parte dos nossos desgostos provém não da velhice mas sim da doença.