Regresso à natureza

Este título parecerá um desacerto lançado às pessoas cultas que se dizem civilizadas, no actual século XXI. Contudo, urge mais que nunca divulgar abertamente, com fundamentos à vista, as enormes vantagens da vida simples.

À medida que o falso progresso cria inúmeras necessidades, calcando todos os sãos instintos, e apagando a justa sensibilidade inerente à constituição moral dos povos, impõe-se lançar aos quatro ventos as verdades patenteadas pela mãe natureza.

Por tal modo o homem qui progredir, com inventos de toda a ordem e com aperfeiçoamentos de todo o género, que se desviou quase completamente da sua integridade com o Cosmos.

Parecendo um brado deprimente o chamar a humanidade ao ancestralismo, neste tempo apelidado de maravilhas, é entretanto uma necessidade flagrante.

Por toda a parte onde se vá; nas cidades crapulosas e anti-higiénicas, nas vilas sórdidas e viciosas, nas aldeias sem sanidade nem vantagem, nos campos e nas planícies, nas montanhas e vales de todo o mundo civilizado, a degenerescência moral, física e intelectual acentua-se e cresce.

A raça humana está por tal forma estigmatizada e empobrecida nos seus característicos que é absolutamente indispensável opor um clic a tanta dissolução e abastardamento.

E dois caminhos se deparam: um, cada vez mais requintado nos prazeres e nos vícios; outro, chamando o homem à justa realidade, dizendo-lhe que precisa de se morigerar, de se tornar frugal, bom, virtuoso e saudável.

A vereda tortuosa e cheia de dificuldades até aqui seguida pela grande maioria, é a todos os respeitos condenável.

A par de algumas descobertas e invenções úteis, quantas desgraças não causam os requintes da moda, do luxo, da gula e da inveja?

As soberbas futilidades das modas que comprimem os pés, as mãos, o pescoço, a cabeça e o corpo todo, impedindo a circulação activa do sangue, e tapando a pele ao benefício do ar; as casas cheias de tapetes, de cortinas, de cubículos fechados onde, de dia e de noite não há ventilação, em ruas sem condições de sanidade; os prazeres demarcados da falsa alimentação resultante do artifício das mais variadas culinárias que avassalam todas as classes; os desregramentos do amor tornado mercantil e corrupto, que invadem, desde a tenra idade, a juventude na licença dos livros pornográficos – vídeos e sites – na dissolvência dos usos actuais da sociedade; as tabernas; os cafés e as discotecas – onde se acotovela a classe culta, ferindo as reputações alheias; os bordeis de toda a ordem onde se aniquilam os homens; Os lugares da pior espécie, onde no jogo, na devassidão e na gula, os operários perdem o mísero salário, embriagando-se por todas as formas; o desvario governando os povos, todo este estendal de defeitos o homem inventou com a civilização moderna.

O homem criou, sem dúvida, as maravilhas da arte e da ciência, mas também gerou os horrores da guerra cruel e infamante que leva para a luta o mundo inteiro.