Sistema nervoso autónomo - II

Os órgãos estão providos de nervos sensitivos. Enviam sem cessar mensagens aos centros nervosos e, em particular ao centro da consciência visceral.

Quando a nossa atenção, na luta diária pela existência, está ocupada com as coisas exteriores, as impressões provenientes dos órgãos não atravessam o limiar da consciência.

Mas, sem darmos conta disso, imprimem certa cor aos nossos pensamentos, às nossas emoções, aos nossos actos, a toda a nossa vida.

O estado dos nossos sistemas orgânicos age obscuramente sobre a consciência. Por vezes, desse modo, um órgão adverte-nos do perigo. Quando um homem doente ou são, tem a sensação de que a morte se aproxima, esta notícia é sem dúvida proveniente do centro de consciência visceral. E esta raras vezes se engana.

Entre os habitantes da cidade moderna, as funções simpáticas acham-se tão desequilibradas como as da consciência.

Parece que o sistema autónomo se tornou menos capaz de proteger o coração, o estômago, o intestino e as glândulas, contra os cuidados da existência.

Era o suficiente contra os perigos e as brutalidades da vida primitiva, mas não tem força bastante para resistir aos choques constantes da vida moderna.

O corpo aparece-nos, portanto, como coisa extremamente complexa, gigantesca associação de diversas raças celulares, cada uma das quais se compõe de biliões de indivíduos, que vivem imersos em humores, feitos de substâncias químicas, fabricadas pelos órgãos, e de outras substâncias derivadas dos alimentos.

Duma extremidade do corpo à outra, as células trocam as suas secreções. Além disso, une-as o sistema nervoso.

Os métodos de análise revelam uma prodigiosa complexidade; e, não obstante, essas multidões de indivíduos comportam-se como um ser essencialmente vivo.

Os nossos actos são simples: calcular, por exemplo, um peso mínimo, ou seleccionar um dado número de objectos, sem os contar e sem os confundir.

Contudo, estes gestos aparecem á nossa inteligência como sendo compostos por uma grande quantidade de elementos.

Exigem o trabalho harmónico do sentido muscular, dos músculos da pele, da retina, do olho, de um número de células musculares e nervosas.

Provavelmente, a simplicidade é real, e artificial a complexidade. Nada é tão simples, tão homogéneo como a água do mar.

Mas, se pudéssemos contemplá-la através dum aparelho que a amplificasse cerca de um milhão de vezes, a sua simplicidade desvanecia-se; aparecia com uma população extraordinariamente heterogénea, formada por moléculas de formas e dimensões diferentes, movendo-se com velocidades variáveis num caos inextricável.

Assim, também os objectos do nosso mundo são simples ou complexos, segundo as técnicas empregadas para os estudar. A simplicidade funcional tem sempre um substrato complexo.