Tendências II

A influência do meio sobre a individualização varia segundo o estado dos tecidos e da consciência. Por outras palavras, o mesmo factor, agindo sobre vários indivíduos, ou sobre o mesmo indivíduo em momentos diferentes da sua existência, não tem efeitos idênticos.

É sabido que a resposta dum dado organismo ao meio depende das suas tendências hereditárias.

Por exemplo, o obstáculo que leva a um deter-se, estimula o outro a um esforço maior, e provoca nele a actualização de actividades potenciais até esse momento.

Igualmente, em períodos sucessivos da vida, antes ou depois de certas doenças, o organismo responde diferentemente a uma influência patogénica.

Um excesso de alimentação e de sono não age da mesma forma na mocidade e na velhice.

O sarampo é insignificante na criança, grave no adulto.

A reactividade do organismo varia, não só segundo toda a idade fisiológica do indivíduo, mas segundo toda a sua história anterior.

Depende da natureza da sua individualização.

Em suma: não se pode definir exactamente o papel do meio na actualização das tendências hereditárias.

A influência das propriedades imanentes dos tecidos e a do desenvolvimento estão inextricavelmente misturadas na formação orgânica e mental do indivíduo.

O indivíduo é, como se sabe, um centro de actividades específicas. Aparece-nos distinto do mundo exterior e dos outros homens. Mas, ao mesmo tempo, acha-se ligado a esse meio e a esses homens, e não poderia existir sem eles.

Possui o duplo carácter de ser dependente e independente do Universo cósmico.

Mas ignoramos de que modo está ligado aos outros seres, onde se encontram exactamente as suas fronteiras espaciais e temporais.

Temos razões para crer que a personalidade se prolonga para fora da continuidade física. Parece que os seus limites se encontram para lá da superfície cutânea, que a nitidez dos contornos anatómicos é, em parte, ilusória, e que cada um de nós é muito mais vasto e difuso do que o seu corpo.