Viver sem esparança de cura

Passado um século desde a primeira descrição da doença de Alzheimer, apenas se conhecem os transtornos que provoca: perda das capacidades físicas, mentais e motoras e, eventualmente, a morte de quem dela sofre. Uma vez que aparece, nada se pode fazer, salvo atrasar um pouco a deterioração e tão-pouco se pode prevenir eficazmente.

Entre as doenças neurodegenerativas, a de Alzheimer oferece os maiores desafios à ciência médica porque ainda se desconhecem as causas que a originam e, do mesmo modo, a possibilidade de cura nem sequer está no panorama dos investigadores. À volta de 15 milhões de pessoas no mundo dela sofrem, assim como do chamado mal do esquecimento – a demência, senil ou precoce.

Daí que a maioria dos doentes sobreviva sem a assistência especializada que os ajude a manter o máximo tempo possível as suas capacidades, sobretudo físicas.

Além disso, a demência do tipo Alzheimer é das que mais afectam, com maior severidade, a população dos extractos sociais mais baixos, como bem assegurou Luís Miguel Gutiérrez, chefe do serviço de psiquiatria do Instituto Nacional de Ciências Médicas e o da Nutrição, Salvador Zubirrá, no México.

O especialista referiu os resultados de um estudo sobre o envelhecimento, segundo o qual, de entre cada dez demências conhecidas, a doença de Alzheimer representa a terça parte do total.

Embora afecte todos os grupos sociais, metade dos doentes carecem de escolaridade: 41,6% com de um a seis anos de escolaridade e apenas 4,3% conta com mais de sete anos de estudos.

O mesmo estudo detectou que 21% dos doentes também sofre de diabetes, e 41,4% tem como doença associada a hipertensão arterial.

As investigações científicas não puderam decifrar a origem da doença de Alzheimer, no entanto, explicou Alejandro Miguel Jaimes, geriatra e especialista no tratamento da doença; o que se sabe é como se manifesta: a proteína beta amilóide “envolve” os neurónios e impede a comunicação electrónica. Esta alteração, juntamente com a mudança que ocorre no interior dos neurónios, no citoesqueleto, e ao nível do núcleo onde se localiza o ADN, condicionam a perda da memória recente, quer dizer, o indivíduo esquece o que foi o seu pequeno-almoço e não se lembra da data em que vive.

Em estados mais avançados, o doente sofre de problemas de desorientação e de repente é incapaz de reconhecer os membros da família. Nesta etapa é quando a maioria dos familiares e doentes pedem ajuda profissional médica.

Geralmente é um familiar quem refere as alterações do doente. Nestes casos, é quase clara a evidência de que o indivíduo vive com algum tipo de demência. Pelo contrário, quando é o próprio afectado quem detecta a existência de alguma alteração na sua memória, é provável que se trate de um transtorno diferente de Alzheimer.

Em 1906, o investigador alemão Alois Alzheimer descobriu, pela primeira vez, as alterações a nível do córtex cerebral que causam a perda da memória, os transtornos do conhecimento, a recente apatia na vida familiar. Depois, a dificuldade para comunicar, vestir-se ou mudar de roupa.

Nas fases mais avançadas, uma pessoa com Alzheimer é incapaz de reconhecer qual a torneira de água quente ou fria, com tudo o que isso implica para a família.

Na doença de Alzheimer podem prevenir-se as complicações mas não o sofrimento. Com o conhecimento até agora adquirido, sabe-se que a doença tem uma componente genética hereditária, o que predispõe os familiares a desenvolver também a doença.

Ao ponderar o risco relativo de vir a sofrer de Alzheimer quando existem antecedentes familiares, sobe para 2,5% quando algum membro dela sofre e para mais de 7% se os afectados foram dois ou mais familiares.

Uma vez formulado o diagnóstico, o médico pode determinar o nível de lesão cognitiva e comportamental para, a partir daí desenhar a estratégia que permita ao doente manter-se independente por mais tempo.