Durabilidade - I

No meio da multidão de fracos e deficientes, aparecem, contudo, homens plenamente desenvolvidos.

Estes, quando observados atentamente, mostram-se superiores aos esquemas clássicos.

Com efeito, o indivíduo no qual todas as potencialidades se actualizam não é de modo algum conforme à imagem criada por cada especialista do objecto do seu estudo; um representa os fragmentos de consciência que os psicologistas tentam medir, uma abstracção, cujas manifestações concretas os educadores procuram guiar; não se encontra tão-pouco nas reacções químicas, nem nos processos funcionais, nem nos órgãos que os especialistas da medicina repartem entre si.

Está quase completamente ausente do ser rudimentar que se afigura aos social workers, aos directores das prisões, aos economistas, aos sociólogos e aos políticos.

Em suma: não se mostra nunca a um especialista, a não ser que este se resolva a olhar para o conjunto do qual estuda uma parte.

É muito mais do que a soma dos dados acumulados por todas as ciências particulares. Não o podemos apreender na sua totalidade. Contém vastas regiões desconhecidas. As suas potencialidades são gigantescas.

Tal como na maior parte dos grandes fenómenos naturais, é para nós ininteligível.

Quando o contemplamos na harmonia das suas actividades orgânicas e espirituais, desperta-nos uma poderosa emoção estética. Este indivíduo é que é verdadeiramente o criador e o centro do Universo.

A sociedade moderna ignora o indivíduo, e só toma em consideração os seres humanos: crê na realidade dos Universais e trata os homens como abstracções.

Foi a confusão dos conceitos do indivíduo e do ser humano que a conduziu a um dos seus erros mais graves, a estandardização dos homens.

Se estes fossem todos idênticos, seria possível educá-los, fazê-los viver e trabalhar em grandes rebanhos, tal como o gado.

Mas cada um deles tem uma personalidade e não pode ser tratado como um símbolo.

Como desde há muito se sabe, a maior parte dos grandes homens foram educados quase isoladamente, ou recusaram-se a entrar nos moldes das escolas. Na verdade, a escola é indispensável para os estudos técnicos.

Corresponde também à necessidade que a criança tem, em certa medida, de estar em contacto com os seus semelhantes.