Duração

A duração faz parte do homem. Está ligada a ele como a forma ao mármore da estátua. Como somos a medida de todas as coisas, relacionamos com a nossa duração a dos acontecimentos do nosso mundo. Servimo-nos dela como avaliação da antiguidade do nosso planeta, da raça humana, da nossa civilização.

É a extensão da nossa própria vida que nos faz considerar rápidos ou demorados os nossos empreendimentos. Servimo-nos erradamente da mesma escala temporal para apreciar a duração dum indivíduo e duma nação.

As nossas observações e as nossas experiências são sempre demasiado curtas e, devido a isso, pouco significado têm. Só passado um século, por vezes, uma transformação das condições materiais e morais da existência humana dá novo carácter a um país.

O estudo dos grandes problemas económicos, sociais e raciais repousa hoje sobre os indivíduos; interrompe-se quando eles morrem.

As instituições científicas e políticas são igualmente concebidas em termo de duração individual.

Só a Igraja Romana compreendeu que a marcha da humanidade é muito lenta, que a passagem duma geração é, na história do mundo civilizado, um acontecimento insignificante.

Quando se consideram os problemas que interessam ao futuro do homem, a duração do indivíduo é uma unidade de medida temporal.

O advento da civilização científica torna indispensável que se ponham de novo em discussão todos os problemas fundamentais.

Assistimos à nossa falência moral, intelectual e social, de cujas causas só incompletamente nos damos conta.

Alimentamos a esperança de que as democracias poderiam sobreviver graças aos esforços débeis e cegos dos ignorantes. Vemos que assim não sucede.

A condução das nações por homens que avaliam o tempo em função da sua própria duração, leva como bem sabemos, à confusão e à bancarrota.

É indispensável preparar o futuro, formar as gerações novas para a vida de amanhã, estender o nosso horizonte temporal para além de nós próprios.

Pelo contrário, na organização dos grupos sociais transitórios, tais como um grupo de crianças ou uma brigada de operários, é preciso ter em conta o tempo fisiológico.

Os membros de cada grupo devem funcionar necessariamente com o mesmo ritmo.

As crianças duma turma escolar são obrigadas a ter uma actividade intelectual mais ou menos semelhante.

Os homens que trabalham nas fábricas, nos bancos, nos hospitais, nas universidades, têm todos uma certa tarefa a realizar num tempo certo.

Aqueles cujas forças declinam devido à idade ou á doença entravam a marcha do conjunto.

Até hoje, é a idade cronológica que tem servido para a clarificação dos seres humanos. Põem-se na mesma classe as crianças da mesma idade.

O momento da reforma também é fixado pela idade do trabalhador. Sabe-se, contudo, que o estado real dum indivíduo não corresponde exactamente à sua idade cronológica.

Jovens e velhos, embora na mesma região do espaço, vivem em mundos temporais diferentes. A idade separa-nos inexoravelmente uns dos outros.